LIVROS COM A LETRA ""A""
Autor do livro: Roberto Gomes
Logo estes que estavam ali começaram a falar do acontecimento da casa vizinha. O moleque que trabalhava no correio estava escondido nos fundos da tal casa a fim de ouvir alguma coisa, mas estava tudo fechado e escuro. Não demorou e dona Eudóxia, a agente do correio, apareceu na porta, ofereceu um café e todos ficaram ali sentados esperando que Maria das Dores saísse da casa. O boato que corria era o de que ela ia tomar o trem das sete.
Depois chegou dona Ricota fingindo não saber do caso, mesmo já tendo ouvido a história duas vezes pela boca de Geraldinho. Todos estavam ali esperando Maria das Dores passar.
Por último chegou Geraldinho. Dona Ricota pediu que ele contasse o caso, falou que não prestara atenção quando viu ele contar pra outras pessoas. Então ele repetiu a história pro grupo. Ele estava passando pelo beco às onze horas e viu um vulto pulando dentro da casa e depois sair correndo pela porta e sumir. Depois viu Matias pegar a esposa e exigir o nome do fugitivo. Pegou o chicote e batia nela, queria o nome do amante. Ela chorava baixo pra não acordar os filhos, mas com o tempo as chicotadas começaram a tirar sangue e aí ela gritou, mas não falava o nome do outro. Matias falou que se não falasse o nome ia embora e nunca mais ia ver os filhos, mas ela continuava em silêncio. Ele batia e chorava até que os filhos acordaram porque a mãe começou a gritar mesmo. Ela não disse o nome do amante e era por isso que partia no trem das sete.
As mulheres sentiram por ela um pouco de dó, mas os homens não. Achavam Matias até bondoso porque no lugar deles matariam a safada! Na casa que agora tinha uma luz acessa a porta se abriu. Mas quem saiu foi o Julinho, o filho mais velho, depois finalmente saiu Maria das Dores. Estava com um xale preto que cobria a cabeça e ia até os pés. O apito do trem avisava que já eram sete horas, hora da partida. No silêncio da cena ouve-se o soluço de Julinho, a mãe hesitou minimamente e seguiu. A ultima fala foi do mendigo: “ só Deus sabe... só Deus sabe”.
Autor do livro: Artur Azevedo
Estava em uma estalagem e preparava seu casamento com dificuldades, já que o dono da estalagem e sua filha eram curiosíssimos e ficavam sempre buscando descobrir o que Carlos tramava, sobretudo sendo ele estrangeiro, era de Lisboa. Nessas circunstâncias o pai de Gabriela, Castelo Branco, reclamava porque concedera o casamento pensando só em suas terras. O cochicholo era uma fazenda muito querida por ele e o Capitão General por todo o preço a quis comprar e agora afirmava que acabaria tendo-a de qualquer forma, logo Castelo Branco pensou que tendo sua filha casada com o privado do Capitão General não teria problemas mais em perder sua casa.
Agora o casamento não só demorava a sair como também não lhe traria o beneficio esperado. Queria então que ao menos a filha se cassasse logo. Mas Carlos precisava de duas testemunhas, uma era um mudo da cidade e outro era amigo de sua confiança que ia chegar. Assim seu casamento não seria descoberto pelo Capitão. Porém, o amigo e a segunda testemunha não puderam ir e isso atrasou mais ainda o casamento.
Castelo Branco falou para chamarem Bento, o dono da estalagem, mas Carlos não queria porque o homem era um curioso e logo espalharia a notícia. Foi quando passou por lá Manuel de Souza, conhecido de Carlos, de quem na verdade ele tinha salvado a vida, assim ele cobrou o favor como testemunhar seu casamento e guardar segredo. Manuel não queria porque estava fora de casa três dias a mais do que falara a sua esposa, Gertrudes, e ela era muito ciumenta em razão de uma traição passada cometida por Manuel.
Mas ele acabou ficando e assim o casamento foi feito. Mas em seguida chegou ali o Capitão porque pela manhã tinha recebido um recado de Carlos dizendo que estava tão mal que acreditava que hoje morreria. Assim Carlos articulou uma mentira para enganar o Capitão e não ter que ceder sua mulher a ele. Falou que Gabriela era esposa de Manuel. O capitão que instantaneamente se interessou pela moça convidou Manuel, ela e o pai de Gabriela, Castelo Branco, para morarem em sua casa em Porto Alegre.
Em meio a isso tudo Gertrudes que ia atrás de Manuel chegou na estalagem e quando convencida pelo marido de que ele não a traia ao ouvir o convite do Capitão se alegrou toda com a nova vida.
Porém partiram rapidamente e Gertrudes ficou e Carlos também, mas ele seguiu a caravana em seguida. Chegando à casa do Capitão, ele fez de Manuel senhor da lanças, fez de Castelo Branco senhor – mor e de Gabriela sua leitora, já no plano de conquistá-la. Feita essas nomeações Carlos chegou.
Ele tinha um plano claro, Gertrudes ficara na estalagem e um médico a faria crer que estava doente, porque ela tinha desmaiado depois da saída repentina de Manuel, e assim nesse tempo ele fingiria ser o marido de Gabriela durante o dia e a noite ele ia ficar com sua esposa escapando da vingança do Capitão.
Ia tudo bem, mesmo depois da chegada de Gertrudes que novamente convencida de que o marido não a traia aceitou a ideia de tê-lo como marido também só durante a noite. E Carlos tinha inventado uma história que a família de Manuel tinha uma tradição de marido e mulher dormirem em quartos separados, o que facilitaria o ajuste dos casais durante a noite.
Porém, o capitão chamou Carlos e lhe propôs o perdão caso ele o ajudasse a conseguir o coração de Gabriela. Carlos claramente não aceitou, defendo sua amizade com Manuel.
Nesse ponto, Carlos viu como última medida fugir com Gabriela. A fuga estava pronta e os dois estavam partindo quando Gertrudes os atrapalhou. Manuel que havia deixado apenas um recado avisando que fora cumprir uma missão determinada pelo Capitão fez Gertrudes crer que ele a estava traindo e assim quando viu o casal fugindo achou que era o marido e assim fez com que eles fossem descobertos pelo capitão e os guardas.
Assim toda a verdade foi revelada e o Capitão prendeu Carlos. Enquanto isso Manuel voltava e Gertrudes estava determinada a ir embora com o marido. Foi assim que estando Gabriela junto ao Capitão suplicou-lhe perdão ao marido e como ele exigiu algo em troca ofereceu o cochicholo. Frente à inocência da menina que não entendia o que realmente ele queria, acabou aceitando esse pagamento pela liberdade de Carlos, mas exigiu também que ela não contasse o que tinha feito pra conseguir a liberdade dele.
Quando Carlos foi liberto, Gabriela abraçava ao Capitão por pedido de demonstração de amizade que eles tinham agora. Logo ele pensou que a vingança estava cumprida e assim ele destratou Gabriela e a devolveu ao pai. Nesse instante entrou rindo o capitão, e também Gertrudes com Manuel.
Gertrudes que a tinha tentado antes conseguir que o capitão concedesse a dispensa de Manuel de seu cargo vinha decidida a consegui-la agora. O motivo era que andando pela casa do capitão encontrou um retrato da esposa do capitão e se tratava da mesma mulher com quem Manuel tinha tido o caso que a deixara tão ciumenta.
Vendo o Capitão que a sua esposa tivera outro amante percebeu que não valia a pena a sua vingança, a sua mulher não valia de nada. Assim ele falou a verdade a Carlos, ele e Gabriela se reconciliaram. Ficando assim felizes eles e Manuel e Gertrudes também.
Autor do livro: Eça de Queirós
Jacinto vivia numa maravilhosa mansão, nos Campos Elíseos nº. 202, que pertencera a seu pai e seu avô. Tinha como grande amigo José Fernades e o negro Grilo. Ele acretidava que “o homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”, sendo assim, abominava a vida no campo, amava e glorificava a cidade e seu ritmo. José Fernandes, resolveu partir para Guiães, a casa de seus tios nas serras. Jacinto lamentou pelo amigo e assim ficaram separados por sete anos.
Quando ele voltou a Paris, voltou a viver na mansão com Jacinto. Encontrou lá um amigo abatido e tomado pelo tédio na mansão farta de “civilização”: elevador, milhares de volumes de livros, abotoadores de sirolas, um relógio com o horário de todas as capitais do mundo e a órbita dos planetas.
A vida seguia em meio a todas essas modernidades. Em certo momento Jacinto recebeu uma carta noticiando que o local onde estavam enterrados os avós e o resto da família havia desmoronado. Jacinto ordenou a construção de um novo local para colocar os mortos. Em meio a tais acontecimentos dia a após dia ele se fadigava mais da vida. Os bailes, como o feito para o Grão duque, não o satisfaziam e as visitas aos bosques também não.
Foi então que ele anunciou sua partida para Tormes, com a intenção de presenciar a cerimônia em homenagem à construção feita para seus antepassados. Assim vários artefatos foram enviados às serras onde Tormes se localizava e por lá a casa era preparada para receber Jacinto com toda a sua necessidade por civilização.
Partiu em abril e junto com ele José Fernandes e Grilo. Por fim, depois de uma longa viagem, chegaram a Tormes, no entanto nada estava pronto nem mesmo a chegada deles era esperada. Ainda por cima suas malas haviam sido perdidas. Instalaram-se precariamente em Tormes. No dia seguinte José Fernandes foi pra Guiães, que era a fazenda vizinha e assim mandaria para Jacinto algumas roupas para que pudesse embarcar de volta.
Assim fez, e escrevendo a Jacinto e sem obter resposta foi a Tormes para saber o que havia acontecido, ao chegar lá encontrou seu amigo. Ao decorrer do tempo Jacinto se instalou em Tormes e passou a reformá-la, agora não vivia mais enfadado de toda a existência e se instalara definitivamente. Chegou à cerimônia para o reenterro dos mortos e na verdade nenhum deles pertencia a qualquer parente de Jacinto.
Ele passou a viver no campo com mordomia, mas sem as modernidades que tinha em Paris. Instalara-se de tal forma que planejou a criação de rebanho destinada à queijaria que queria construir, no entanto desistiu dela e o que fez mesmo foi uma reforma caridosa.
Para todos os trabalhadores de sua terra construiu novas casinhas e aumentou os salários. Planejou então a construção de uma fármacia, uma biblioteca e uma creche, com isso tornou-se popular entre a população dali. No aniversário de José Fernandes, Jacinto foi para Guiães onde haveria um pequeno baile em comemoração a data. A festa foi meio tensa por que muitos achavam que Jacinto participava do miguelismo, um partido político absolutista e de extrema direita.
No dia seguinte à festa José Fernandes levou Jacinto até a fazenda do pai de sua prima Joana, a quem ele queria apresentar na festa, mas não pode, pois a moça não havia comparecido, seu pai estava com um furúnculo e precisava dela. Conheceram-se e depois de cinco meses se casaram.
Daí nasceram dois filhos Terezinha e Jacinto. Firmado ele estava na vida em Tormes, por muitas vezes quis levar a família para conhecer Paris, no entanto a viagem era sempre adiada, e assim o tempo passava, na casa notava-se uma presença maior de modernidades, mas nada estrondoso. José Fernando então voltou a Paris, mas não por muito tempo, logo ao chegar lá viu como era horrorosa e desagradável.
Chegou a encontar amigos, o que só mostrou como lá nada mudara. Voltou às serras e por lá ficou junto a Jacinto e sua família.
Autor do livro: Clarice Lispector
Lucrécia morava com a mãe, Ana. Era extremamente patriota em relação ao subúrbio, se sentia dona da cidade. Era magra e alta, o rosto era pálido e em alguns momentos apresentavam manchas negras, talvez pelo efeito da luz, era uma mulher fria e também, pode se dizer, ingênua.
Sua mãe era viúva, viviam as duas juntas em uma casa cheia de bibelôs, a comunicação entre mãe e filha não se podia caracterizar como boa e na verdade juntas encenavam uma “farsa”. Não eram pobres, o que tinham dava para ter uma vida adequada sem luxos ou extravagâncias.
Lucrécia namorava Felipe, ele fazia parte da cavalaria e ela amava homens do exército; aqueles que usavam fardas e carregavam armas, Felipe se enquadrava. Ao mesmo tempo saia com Perseu, um jovem bonito, talvez o homem mais bonito que ela já tivera, ele gostava dela, achava-a maravilhosa, no entanto, para ela Perseu era um belo e educado homem e também um fraco, já que ela se mantinha na frente do relacionamento deles.
Ela e Felipe romperam no momento em que ela lhe negou um beijo e ele ofendeu o subúrbio dela, ela o criticou como forasteiro e assim acabou o romance, ele tinha farda, porém não pertencia a São Geraldo. Perseu e ela também acabaram se separando, mesmo depois da tentativa dele de mudar seu jeito de ser, ao que Lucrecia reagiu negativamente, fazendo-o voltar a ser o Perseu maravilhado pela pessoa dela.
Nessas circunstâncias existia Mateus, um homem rico, morador da metrópole, mas que vinha a São Geraldo e fazia visitas a Ana com o verdadeiro intuito de conseguir Lucrécia. Como sua idade de casar já chegara, Lucrécia casou-se com ele e foram para a metrópole.
Lá iam a festas e teatros, Lucrécia ao mesmo tempo se espantava e admirava o ritmo acelerado da metrópole com toda a sua chamada modernidade. Moravam em um hotel e ela não fizera amizades e não compreendia o marido, porém o amava.
Mateus era rico, saía cedo para trabalhar e era bondoso. Lucrécia só compreendeu seu jeito de ser quando ele morreu. Foi ai que descobriu a bondade do marido e como para ele a vida deles era boa e que para ele levá-la a passeios e mandar que arrumassem o cano era a rotina do casamento o alegrava.
Lucrécia, cansada da metrópole, decidiu voltar a São Geraldo e Mateus aceitou instantaneamente a idéia. Ana havia se mudado para uma fazenda de um parente ou conhecido e assim eles moraram na antiga casa de Lucrécia. A esse ponto, no subúrbio os cavalos já davam espaço para os bondes, fábricas surgiam e um viaduto fora construído varrendo os cavalos, galinhas e o cheiro de campo para longe.
Como Mateus viaja muito em uma de suas viagens deixou Lucrécia em uma ilha. Visando que ela engordasse e não ficasse só em São Geraldo. Nessa ilha vivia Dr. Lucas, já conhecido de Lucrécia. A mulher dele vivia em um manicômio e foi assim que ela se apaixonou pelo doutor, eles passeavam juntos e às vezes os braços se tocavam, ela mais apaixonava. Ele declarou impossível o romance, e depois se questionou se Lucrécia reapareceria.
Na noite seguinte ela estava lá declarando que por ser impossível não iria acontecer. Os dois viveram um romance. Mais tarde Lucrécia voltou a São Geraldo e Mateus morrera. Ela sofreu, arrependeu-se de como era ávida com o marido, sempre a pedir sem nunca compreender o quão bom ele era.
Nesse tempo, Perseu se tornara um homem, encontrara uma mulher no trem com quem se sentou pra beber depois da viagem e fora ser médico, um bom médico em outra cidade.
Viúva, ela morava só no subúrbio que não era mais o seu subúrbio. Os cavalos foram banidos e a nova geração tomava conta das ruas, essa também domada pela modernidade. Foi assim que recebeu uma carta de sua mãe, um homem de “bom coração” se interessara por ela (tinha visto uma foto). Lucrécia se encantou com a novidade, teria o luxo de ter tido dois maridos e assim foi embora de São Geraldo.
Ele a sequestrou a fim de lhe contar a historia da sua vida. Usou clorofórmio para fazê-la adormecer quando a abordou em seu carro, durante a noite. Assim a levou para sua casa e a prendeu em uma poltrona, retirando a mordaça depois que ela acordou. Ele a tratava com certa delicadeza, chamando-a de senhora e querendo saber sua opinião sobre os fatos que narrava.
Nessas circunstâncias ele começa a narrar sua vida. Era um rapaz pobre, solitário e até mesmo medroso. Vivia do roubo de livros. Roubava livros de bibliotecas e livrarias e vendia nos sebos. Vez ou outra tinha um cliente, como foi o caso de um senhor, que lhe encomendava livros e comprava todos, mesmo não sendo os que ele tinha pedido. Com o dinheiro que ganhava pagava o quarto na pensão miserável que vivia e se alimentava. Muitas vezes passava fome, mas já sabia lidar com ela. Tinha o hábito de ir ao cinema e também gostava de tomar vinho, mesmo não tendo paladar para isso.
Foi por esse motivo que conheceu sua vítima, a viu em um restaurante de luxo, ela não o viu. Ele suplicou com os olhos que ela o ensinasse a apreciar vinhos como ela fazia naquele instante. Mas ela estava alheia ao mundo fora do restaurante. Era uma mulher rica, não reparava em rapazes pobres da rua. Naquele dia ele pensou que a mataria.
Um dia voltando do cinema, viu uma moça no ônibus, Emma, ela carregava duas garrafas de vinho e lhe chamou extremamente a atenção. Pela pele da nuca, que era o pouco do corpo dela que ele podia ver, deduziu sua idade. Quando ela desceu, ele fez o mesmo e a seguiu sem que ela percebesse. Assim a viu tocar a campanhia de um sobrado e uma luz se ascender no piso superior e segundos depois alguém abriu a porta, pegou as garrafas e entrou, Emma acompanhando. No dia seguinte ele fez o mesmo caminho da noite passada, mas para sua surpresa o sobrado era um prédio abandonado, não havia nem mesmo uma janela no segundo andar.
Mas ele teve outro encontro com Emma, encontrou-a na porta do restaurante em que vira sua vítima. Ele olhava os cardápios exposto na porta, eles trocaram um sorriso e ele a convidou para um almoço. Almoçaram, a conta, Emma pagou, ele não tinha dinheiro. Ela falava sobre os sabores da comida, sobre o sabor do vinho e os ingredientes de tudo aquilo, mas ele não via diferença. Passaram o dia juntos, à noite, dormiram juntos. Ele estava apaixonado por Emma. Queria perguntar pra ela sobre o sobrado, mas achou melhor deixar pra outro dia.
No dia seguinte quando se levantou e ia para a cozinha beber água, encontrou um livro de colecionador na estante de Emma, e dentro dele, 500 dólares. Depois de muito pensar decidiu levar só o livro. Foi nesse momento que ouviu um homem bater na porta, e com o tempo ficar irritado. Acabou indo embora pelos fundos, levando o dinheiro e o livro. Depois de pouco tempo viu no jornal que Emma havia morrido, encontrada morta na sua cama, mas nada levava a um assassinato.
Desde aquela noite com Emma a vida dele havia mudado, sua primeira ação ao sair do apartamento dela foi voltar ao restaurante e comer tudo que havia comido no outro dia. Mas desta vez ele sentia os sabores, ele sabia apreciar. Quando viu a morte de Emma estampada em uma coluna do jornal, ele sofreu muito, e de alguma forma soube que era o culpado. E então foi pesquisar, passava horas na biblioteca da cidade, buscando a explicação.
Foi assim que ele acabou desmaiando no meio da rua, estava fraco porque se alimentava muito mal. E foi socorrido por Agnes. Ela era médica no Instituto responsável por tratar de moradores de rua. Ele ficou mais tempo que o necessário no instituto. Agnes e ele desenvolveram um relacionamento. Ela ouvira muita coisa que ele dissera em delírios enquanto não acordava do desmaio.
Assim ela sabia que ele estava pesquisando sobre vampiros na biblioteca, e sabia sobre Emma. Depois que ele saiu do Instituto, eles se encontraram. Ele decidiu que não ia dormir com ela porque sabia que aquilo a mataria. E assim, no primeiro encontro deles, ela só contou sobre sua vida. Contou como virara médica porque o pai quis que seguisse os seus passos, contou sobre como na faculdade teve uma grande amiga, Lucia, e que, juntas, foram para Itália e as duas nutriam uma paixão por livros de vampiros, contou como Lucia viveu um romance durante a viagem e que um dia a assustou perguntando como seria morrer de amor, e assim no mesmo dia ela a encontrou em um último momento, com os olhos brilhantes, nua em sua cama no hotel, logo depois de ter visto o namorado que ela tinha feito deixando o hotel.
Agnes contou como depois ela entregou um papel pra ela com o nome de uma biblioteca e o nome de um frei, quando ela estava no aeroporto de partida, e como ela voltou para o Rio de Janeiro, e dedicou sua vida a descobrir o que matara Lucia, assim voltou para Itália e leu os textos daquele frei que contava o que ele era na verdade.
Ele queria saber mais, mas Agnes disse que não contaria que ele teria que tomar dela. Assim ele foi embora, mas dias depois a encontrou na porta da pensão, debaixo da chuva e então eles foram para casa dela, comeram e ele falava sobre o vinho e viagens a vinhedos, tudo baseado nas lembranças de Emma. Dessa vez eles dormiram juntos, no dia seguinte ele foi embora sabendo o que era: Vampiro, e sua habilidade era roubar as memórias e experiências das pessoas com quem dormia. Agnes havia deixado suas joias arrumadas em uma maleta visível. Eram muitas e de valor, ele teria dinheiro por tempo suficiente.
Começava uma nova etapa na vida dele, vendeu uma pulseira para um dono de sebo que era seu comprador, depois comprou essa casa onde estava com a sua vítima, e por fim viajou.
A essa altura já era um homem, era bem mais ciente do que era, e se tornara bem mais sofisticado graças ao que roubara de Emma e Agnes. Foi assim que chegou a Londres, lá dormiu com uma garota chinesa e assim seguiu viagem para o vilarejo de onde ela tinha vindo. Ficou na casa dela e desfrutava da paz de um local onde a civilização não tinha chegado. Naquele lugar tentava se encontrar, quando uns fotógrafos franceses chegaram, instantaneamente não gostou deles, dois homens e uma mulher. Quiseram lhe entrevistar, mas ele acabou desistindo. Quando fazia uma trilha pela floresta do local, a fotógrafa o seguiu para tentar a entrevista de novo, ela era a primeira pessoa que ele quis matar só para fazer-lhe mal, dormiu com ela também ali mesmo na floresta, no dia seguinte foi para Bruxelas.
Porém, ele sempre descia nas pontes aéreas que seus voos faziam. Foi assim que parou em Lisboa, onde dormiu com uma prostituta romântica que iria se matar no dia seguinte.
Já tinha se passado cerca de dez anos, e as viagens não o satisfaziam mais. Seu último destino foi Bruxelas. Lá encontrou um homem gordo que dizia saber a língua dos pombos e saber quem ele era na verdade. Depois disso voltou para o Brasil.
Buscou os locais que frequentava antes de se tornar aquele novo homem. E foi nessas andanças que em um bar que frequentava encontrou na mesma mesa que se sentava um jovem idêntico a ele, talvez era ele mesmo mais novo. Perguntou quem era, mas o jovem não respondeu, o seguiu até a pensão e lá o jovem simplesmente desapareceu. Uma moradora nova disse não saber quem era esse, e seu antigo vizinho reconheceu a descrição, mas disse que o tal rapaz tinha ido embora a tempo.
Nesse dia, andando pela cidade, ele conheceu Inês. Era violinista, a seguiu até um bar onde ela se encontrou com amigos, ouviu toda sua conversa e a seguiu no ônibus, viu que ela era apenas amiga de um dos jovens do grupo que claramente tinha maiores interesses. E a seguiu quando ela desceu do ônibus. Quando dois jovens meio bêbados a importunaram, ele a socorreu e assim se conheceram. Inventou uma história que a tinha visto no ensaio aberto que teve na faculdade e quando questionado, perguntou se ela queria ouvir uma historia. Ela disse sim.
Eles foram jantar, e no final estavam interessados um no outro. Inês estava apaixonada, ele não queria se envolver porque sabia que acabaria matando-a. Foi em uma de suas conversas que ela disse que era filha da sua vitima, da mulher que ele tinha sequestrado. Para sua imensa surpresa. Inês estava muito envolvida e ele fugia dela, mas ela conseguira seu telefone e seu endereço. Ela foi vê-lo, mas ele estava decidido a não matá-la, assim, depois de um beijo, ele foi pegar uma surpresa e a mandou esperar de olhos fechados. Ela desmaiou com o clorofórmio, e ele colocou-a no carro e a deixou no estacionamento do seu prédio, em seu carro.
A essa altura ele estava cansado de ser aquele novo homem, queria poder voltar ao começo. E chegou à conclusão de que o que o impedia de ser aquele outro era ter perdido o medo. Era esse o motivo de ter sequestrado a mãe de Inês. Ela estava com medo agora, e dormindo com ela, poderia roubar dela o medo e voltar a ser o mesmo homem que era anos atrás, mesmo que fosse mais velho. Era isso que queria.
Autor do livro: Bernardo Guimarães
O nome da menina era Isaura. O comendador, pai de Leôncio, demitiu Miguel e facilitou a morte da mãe da escravinha, essa foi levada para a casa grande onde recebeu educação e foi criada como a filha que a esposa dele não teve. Isaura cresceu e se tornou uma moça bela e educada, e era vontade da Senhora da casa dar-lhe a liberdade, mas preferia dar tal coisa a ela apenas em seu leito de morte porque, assim, só não a teria mais depois de morta.
Porém, ela morreu antes e a vida de Isaura ficou entregue a Leôncio, esse era um jovem de má índole que quando jovem saltara de faculdade a faculdade até chegar à Europa onde viveu longe dos estudos e, retornando ao Brasil, depois de gasto parte da fortuna, se direcionou ao comércio acreditando ser um grande talento da área e por fim casou-se com Malvina por interesse.
Nesses tempos a mãe de Leôncio morrera subitamente sem exigir a libertação de Isaura e o comendador se mudara para a corte vivendo a gastos. Isaura vivia a serviço de Malvina, e foi com a presença dela dentro da casa que Leôncio se apaixonou.
Declarava-se a Isaura, que se mantinha indiferente e negando-se a qualquer envolvimento, prometia lhe fazer rainha e quando era negado a ameaçava, acreditava que a teria de qualquer modo, afinal, ela era propriedade dele. Leôncio conversava com seu cunhado Henrique, que estava visitando-o,s sobre seus interesse, ele moralístico e educado não se empolgava como ouvinte.
E foi em uma manhã que Malvina foi novamente pedir pela liberdade de Isaura que Henrique se declarou à escrava, essa da mesma forma o negou. Porém, Leôncio estava à porta e viu o que acontecera. Assim, Henrique saiu declarando que contaria para irmã os desejos do marido.
Nessas circunstâncias Isaura foi para o jardim onde nova declaração foi feita, por parte de Belchior, o jardineiro. Depois de recusá-lo Isaura teve que novamente receber de Leôncio palavras de amor, no entanto, dessa vez Henrique e Malvina estavam a janela e tudo ouviram.
Malvina declarou que Leôncio teria que escolher entre ela e a escrava, ou seja, para ela continuar ali Leôncio teria que vender ou dar a liberdade a Isaura. Exatamente após essa declaração Miguel, pai de Isaura, chegou. Vinha para comprar a filha pelos dez contos de réis que o comendador havia exigido no prazo de um ano. Leôncio estava complicado e arranjou como desculpa que a escrava não o pertencia, visto que seu pai ainda era vivo e assim ele teria que escrever ao pai antes.
E foi nesse momento que uma carta anunciando a morte do comendador chegou e logo as esperanças de Isaura se findaram. A casa ficou em luto, passados alguns dias Malvina partiu, pois Leôncio não tomara providência nenhuma em relação à Isaura, apenas a mandou para a senzala. Como ela se negava a ter com ele, Leôncio preparava-lhe castigos físicos.
Frente a essa situação que Miguel, em visita secreta à filha e aproveitando a falta de vigilância sobre ela, levou-a embora.
Foram para Pernambuco, ela era tratada como Eusira. Escondiam-se de todo da sociedade. Até que Álvaro apareceu, apaixonou-se instantaneamente por Isaura, essa primeiramente fugia do jardim quando ele passava na porta, mas como o sentimento era recíproco acabaram por se tornarem amigos. E depois de muita insistência dele e afirmando que já lançavam suspeitas é que Isaura e Miguel aceitaram ir a um baile que ele oferecia.
Nessa apresentação pública Isaura deixava todas as demais moças desalentadas e os rapazes encantados, no entanto, sofria por enganar Álvaro e se passar por quem não era.
Leôncio havia acionado toda ajuda na procura de Isaura, e espalhara cartazes com a descrição dela oferecendo recompensa. E foi por um desses cartazes que Martinho reconheceu Isaura na noite do baile, declarando em público que ela era uma escrava, a pobre envergonhada confessou suas origens.
O baile se findou e todos foram embora. Álvaro inicialmente não acreditou, mas depois reconheceu ainda amar Isaura e se pôs como protetor dela. Martinho, no entanto, recebera uma carta de permissão mandada por Leôncio para prendê-la e levá-la de volta para as posses dele. Porém, quando foi cumprir com a ação, Álvaro lhe ofereceu o dobro da quantia que ganharia para prender Isaura. Assim, Martinho voltou à polícia e declarou que a moça não era a escrava fugida.
No entanto, no mesmo dia Leôncio chegou à casa de Isaura e mesmo com o esforço de Álvaro foi levada presa.
Na fazenda, Malvina voltara para casa, Leôncio inventara mentiras a cerca de Isaura. Ela ingênua voltou para casa, satisfazendo ao marido que só a buscara de volta porque estava com dívidas e ter de volta a esposa era ter de volta o dinheiro do sogro. Isaura estava presa em um quarto escuro e ainda se negava a ter-se com o senhor.
Leôncio então planejou uma nova vingança, daria a ela liberdade com a condicional de se casar com Belchior. Ele também forjou uma carta de Álvaro em que ele se gabava do casamento e de como queria Isaura para mucama de sua esposa. Foi assim que Isaura sem motivo algum para acreditar em um futuro aceitou o casamento.
No dia do casamento, quando esperavam pelo padre e pelo escrivão, Álvaro chegou. Recebeu a notícia do casamento de Isaura, porém afirmou que tal coisa não era possível já que ele havia se tornado o credor das dívidas de Leôncio, sendo assim dono de seus bens e que agora toda a riqueza do rival pertencia a ele, inclusive Isaura.
Afirmou ainda que não deixaria Leôncio e Malvina na miséria, mas, frente a isso, Leôncio afirmou que não permitiria a Álvaro o prazer de o ver suplicar caridade e assim se matou com um tiro na cabeça.
Autor do livro: Ivan Ângelo
Andrea, que nasceu no Rio de Janeiro, morou em Belo Horizonte e era uma mulher mal falada, por ter se tornado vulgar, sensual e misteriosa. Envolveu-se com vários homens, e uma de suas aventuras amorosas foi narrada nos diários do jovem repórter morto, Samuel. Andrea era convidada para a festa e iria anunciar seu noivado com Rodrigo, se não viesse a comprovação que ele era gay.
Aparecem na narrativa Candinho e Juliana, que quando jovens combinaram que se matariam juntos antes da velhice, e assim, alcançando-a, ele lembra a promessa e quer cumpri-la, já a moça não quer abandonar a vida. Assim vivem, ela tendo um amante e ele também. Na noite da festa de Rodrigo, os dois comemoravam 30 anos de casados, porém, no bolo havia veneno.
Depois aparecem Lenice, Cleber e seu filho Robertinho. Cleber tentava ser o pai que não tivera e se entregava ao filho, e esse, só amava ao pai. Lenice via no menino um inimigo que roubara seu marido. Assim, o casamento esfriava a cada dia e eles passaram a dormir juntos, porém com ódio, até que Lenice decidiu ir embora.
Jorge era um advogado, que também fora convidado para a festa. Preparou joguinhos para se mostrar na ocasião, e também pensava na conquista da mulher com quem já estava envolvido. Um egoísta. Minutos antes de sair para a festa recebeu uma ligação para ajudar a Carlos, o estudante que estava preso, mas não se interessou.
Surgem Ataíde, marido de Cremilda, e Fernando, também casado. Ataíde era pobre e atencioso com a mulher, mas o tipo de homem que não levava desaforo para casa, Fernando, um esquentado. Os dois homens travam uma brigam na rua.
A mãe de Carlos aparece, essa questiona a vida dos jovens, em 1970, e como o filho teve que esquecer a namorada por ser mais pobre. Há também um delegado, que se vê como a salvação do povo.
Com as agitações na praça, onde os nordestinos estavam, e a ligação de Samuel e Carlos com os convidados da festa, a polícia vai à procura deles. Alguns são presos por uns poucos dias. Andrea foi obrigada a ler os relatos sexuais sobre ela escritos por Samuel e depois se explicar quanto ao envolvimento com ele.
Carlos é solto da prisão, porém um ex-preso não tem chances na vida. Por tempos ainda sustenta a mulher e a filha, mas as dificuldades aumentam. Como ele vivia em São Paulo e ela, em Belo-Horizonte, ele simplesmente desapareceu e ela pediu o desquite.
Em 1971, Roberto promoveu outra festa de aniversário, porém um grupo de rapazes entrou gritando, rasgando as roupas das mulheres e quebrando o apartamento. Depois de um toque, foram embora. Essa foi a última festa.
Autor do livro: Machado de Assis
Mais tarde, já formados, os amigos se reencontraram. Luis Alves, ambicioso advogado como era, ingressara na carreira política e Estevão ainda era um iniciante. Assim, por uns dias, ele esteve na casa de Luis. Logo na primeira manhã, enquanto estava no jardim, viu uma moça que saía da casa vizinha. De longe a fantasiou e quando ela se aproximou já estava praticamente apaixonado pela moça, que se tratava de ninguém menos que Guiomar.
Conversaram e ela logo se retirou para acompanhar a madrinha no passeio matinal. Luis via a cena toda pela janela e esperava a confidência do amigo, porém ela não se fez. Para alegria do amigo, Luis deu a Estevão o trabalho de tratar de alguns negócios da família da baronesa.
Guiomar que perdeu sua mãe e estava pronta para se tornar professora, abandonando toda sua ambição. Entretanto foi tomada por sua madrinha, a baronesa, que logo se tornou sua mãe, visto que ela já tinha perdido a sua e a baronesa sua filha.
Sendo assim a menina se tornava mais uma das belas moças da corte e sua madrinha ambicionava seu casamento com Jorge, sobrinho seu, um rapaz bom que vivia apenas da fortuna que possuía. Junto ao renascido amor de Estevão e o amor de Jorge havia Luis. Esse havia se declarado a ela há algum tempo, mas desiludido deixara de lado o cortejo.
Os fatos que seguiram foram todas às portas fechadas a Estevão, que sofria do seu amor não correspondido. Enquanto isso Jorge, auxiliado pela Senhora Oswald, enchia-se de esperanças quanto ao casamento tão feliz para ele.
Foi então que por capricho de Guiomar e pela promessa antiga da baronesa se fez a idéia da ida das duas ao campo por três ou quatro meses. Dada tal informação Jorge procurou Luis para que juntos desmotivassem a baronesa. Tentaram, mas apenas quando Guiomar desistiu da idéia é que o ideal foi concretizado, e a menina só desistiu porque seu plano era fugir de Jorge que já lhe escrevera se declarando e afirmando que se elas fossem, ele as acompanharia.
Em meio a isso, Estevão sofria pelo seu amor e Luis dizia serenamente a Guiomar que a amava. Foi também nesse mesmo período que Sra. Oswald, que insistia com a moça que o casamento entre ela e Jorge era o maior desejo da baronesa, sugeriu ao rapaz que pedisse a mão da menina de supetão junto à baronesa. Assim ele fez e a baronesa extremamente alegre lhe concedeu a noite para pensar em uma resposta.
A ação de Guiomar não foi outra a não ser o desespero, escreveu rapidamente um bilhete a Luis e lhe jogou janela adentro. Ele conversava com Estevão neste momento, afirmando como suas esperanças ainda podiam resistir, mas deveriam ser mínimas. Leu o bilhete que dizia “peça-me” e revelou tudo ao amigo. Estevão apenas foi embora.
No dia seguinte a baronesa recebeu uma carta de Luis que lhe pedia a moça em casamento. Sra. Oswald foi chamá-la e mais uma vez declarou que o casamento com Jorge era o maior desejo da baronesa. Quando a sós, a menina e a madrinha conversaram. A baronesa afirmou sua preferência, mas queria que a garota escolhesse.
A baronesa apenas por ver sua afilhada sabia que Luis era o escolhido e assim disse, mas a menina negou dizendo ser Jorge, nada mais que uma estratégia que só fez confirmar ao coração da menina que a madrinha não se zangaria com a escolha.
Sendo assim, Luis e Guiomar se casaram. Jorge rapidamente se conformou com a idéia e Estevão, apenas drástico como era, sonhava com seu suicídio ali, durante o casamento. Mas nada atrapalhou o casal ambicioso e feliz que acabara de se unir.
Autor do livro: Joaquim Manuel de Macedo
Chegava o dia de irem para ilha, Fabrício escreveu uma carta pedindo a ajuda de Augusto, pois seu namoro com D. Joana não estava bem. Ele agia de forma clássica em seus romances, mas por questionamentos de Augusto resolveu agir de forma romântica e assim se envolveu com a prima, de Filipe, D. Joana, e a moça, a partir de então, não lhe deixava em paz com exigências. Queria que Augusto o ajudasse a se livrar da moça.
Assim chegaram à ilha, Augusto foi interceptado por uma senhora que lhe tomou numerosas horas com narrações maçantes, quando finalmente se viu livre de tal senhora foi ter com D. Carolina, irmã de Filipe, mas nesse momento Fabrício o convocou para uma palavra. Pediu-lhe a resposta da carta, mas Augusto havia perdido a paciência com a maçante senhora e, além disso, não teve oportunidade de ficar com D.Carolina; recusou a ajuda.
Fabrício, então para se vingar da recusa ao pedido, revelou na mesa de jantar as inconstâncias nos amores de Augusto, ele se defendeu alegando que não podia se prender e amar uma só senhora, pois enquanto uma tinha um sorriso cativante outra tinha um lindo colo e assim justicava-se pela beleza do sexo oposto. Depois do jantar todas as senhoras, temendo o rapaz, o deixaram sozinho. Por fim D.Ana lhe concedeu o braço e foram passear.
Caminharam até chegar a uma gruta e lá foi novamente questionado pela sua inconstância, então revelou por que agia de tal forma. Quando tinha seu treze anos, encontrou-se na praia com uma menina travessa que devia ter seus oito anos, logo os dois se tornaram grandes camaradas e decidiram se casar, passaram a tratar um ao outro como “meu esposo” e “minha mulher”. Assim não se importaram com nomes, continuavam a brincar quando chegou um menino chorando até eles.
O pai do menino estava morrendo, correram os três até uma cabana, Augusto e sua “mulher” encontraram um velho moribundo, sua mulher e seus filhos, deram todo dinheiro que tinham para a família, o velho então os abençoou e sabendo do desejo que tinham de se casarem, pediu a eles um objeto de valor. Augusto lhe entregou um camafeu de ouro e a menina um botão de esmeralda. O velho entregou o camafeu de ouro para a menina e o botão de esmeralda para o menino, dessa forma no futuro se reconheceriam e se casariam. Assim os dois foram embora, a menina foi ao encontro dos pais e nunca mais se viram.
Não amou nunca mais, até que questionado iniciou seus namoros, primeiro namorou a uma moça morena que depois de lhe jurar gratidão e ternura casou-se com um velho de sessenta anos. Depois amou a uma corada que em um baile ouviu-a dizer a outro que ele era um pobre rapaz com quem se divertia, em terceiro amou a uma jovem pálida que zombava dele e do primo ao mesmo tempo, jurou então não amar nem um desses três tipos de moça, mas então percepeu que assim não podia amar nem sua “mulher” então depois de uma canção iniciou sua inconstância.
A cada ponto dessa narração ouvia alguém correndo na porta da gruta, mas quando ia lá só via a travessa D. Carolina, distante a se divertir. Explicando-se foi até uma fonte ao fundo da gruta e bebeu de sua água em um copo que ficava ali justamente pra isso. Após beber D.Ana contou-lhe sobre a lenda daquela fonte que era na verdade as lágrimas de uma virgem que muito chorou em cima do rochedo da gruta por não ser correspondida pelo mancebo que todos os dias visitava àquela ilha, as gotas de suas lágrimas penetraram o rochedo e caíram sobre o mancebo que acabou apaixonando pela virgem. E ali ficara a fonte, dizia a lenda que quem bebesse daquela fonte não sairia da ilha sem amar um de seus habitantes.
Logo que saíram da gruta D.Carolina estava em cima do rochedo cantando a canção que a virgem cantava. Assim voltaram todos para a casa.
Estando na casa caiu café sobre as calças brancas de Augusto que foi trocá-las, Filipe lhe disse que poderia se trocar no quarto das moças, Augusto acabou aceitando e assim que estava de siroulas entram no quarto: Joana, Gabriela, Quinquina e Clementina. O rapaz correu e se escondeu debaixo da cama e lá ficou ouvindo as confidências das moças. Essas foram interrompidas por um berro de Carolina, as moças saíram e em seguida Augusto saiu vestido.
A serva Paula que amamentara Carolina havia bebido muito ao fazer companhia para o S. Kleberc e estava desmaiada. Logo muitos diagnósticos vieram, Filipe e seus amigos disseram o que tinha acontecido, logo viram que se tratava de bebida, mas como Carolina não acreditaria e seria mais divertido mentir inventaram loucuras acerca do que havia acontecido. Logo a noite seguiu cheia de diversão.
No entanto, Augusto não se agradava com os jogos que os jovens faziam, faltava ali D. Carolina. D. Ana vendo a inquietação do rapaz perguntou-lhe o que tinha e com a resposta mandou ir procurá-la, achou-a junto a Paula, acabava de brigar com uma escrava que dizia que a água para o escalda-pés da outra estava muito quente, e assim decidiu por si mesma fazer. Logo a vendo segurar os gemidos provados pela dor da água fervendo Augusto se ofereceu a fazer ele mesmo o escalda-pés.
De início Augusto achara Carolina feia, depois a achara travessa e agora estava a ponto de achá-la bela. E todos viam que Carolina deitava maior delicadeza para ele. Assim seguiu os dias. Durante um sarau Augusto se declarou para quatro senhoras, essas depois reunidas desobrindo tais declarações decidiram que fariam uma brincadeira com ele para se vingarem, escreveram-lhe um bilhete pedindo que fosse para a gruta no dia seguinte onde lhe esperariam, assinaram como uma incógnita.
Mas Carolina havia ouvido tudo e com outro bilhette anônimo contou a verdade para Augusto, mas mesmo assim ele foi até a gruta só que quem riu foi ele, ao chegar lá disse que adivinharia segredos das quatros assim que bebesse da água da fonte que era mágica. Assim em particular falou a elas sobre os segredos que elas mesmos haviam revelado naquele dia no quarto. Assim todas foram embora, quando Augusto ia sair apareceu Carolina na gruta e disse que ela lhe revelaria agora o passado presente e futuro dele.
Falou-lhe sobre a “sua mulher” e sobre as moças que o ignoraram, falou que no futuro, estaria apaixonado e esqueceria sua mulher e depois lhe falou sobre o presente. Por fim voltaram todos à corte. Mas Augusto não era o mesmo, confidenciou a Fabrício que amava Carolina, essa, na ilha, andava entre suspiros e deixara de ser a menina travessa que era.
Assim no fim de semana seguinte Filipe voltou à ilha, e disse que no dia seguinte Augusto viria. Logo Carolina se alterou e no dia seguinte vestida de branco foi para cima do rochedo quando a embaração de Augusto apontou, a menina voltou para casa, ele da embarcação conseguiu vê-la, mas rapidamente a perdeu. Foi um dia agradável, Carolina se tornou a sua “bela mestre” e Augusto o seu “aprendiz” e assim ela o ensinava a bordar. A cada erro dele a menina dava-lha um puxão de orelha e nesse momento suas mãos se apertavam no encontro.
No domingo seguinte voltou e como tarefa trouxe um lenço bordado, mas Carolina se encheu de ciúme pois o lenço estava perfeito e assim a pobre acreditou que ela havia tomado outra mestre, mas depois de tudo esclarecido, ele tinha pago pelo lenço, voltaram ao que era antes e foram brincar com as bonecas dela. Depois, enquanto caminhavam na praia, Augusto declarou que a amava.
Quando voltou pra a corte seu pai estava lá e com a chegado do domingo não o permitu que fosse até a ilha, trancou-o no quarto e assim o rapaz adoeceu. Carolina também se mostrava muito infeliz. Até que chegou um homem à ilha e em conferência com D.Ana explicou que o rapaz estava doente. Com a chegada do domingo e também a notícia da melhora de Augusto, Carolina subiu ao rochedo e foi esperá-lo. Junto veio o pai dele. D.Ana e o pai de Augusto ficaram muito tempo a conversar até que os dois amantes foram chamados.
D. Ana havia concedido a mão da neta a Augusto, perguntaram se ela aceitava o menino, depois de muito acanhamento pediu que dessem a ela meia hora e foi até a gruta. Antes do tempo se dar Augusto foi pra lá, Carolina então lhe disse que antes de aceitá-lo tinha que ter o perdão de sua “mulher” e que ele fosse procurá-la, antes dele sair da gruta Carolina lhe entregou o camafeu de ouro. Ela era sua “mulher”. Filipe, Fabrício e Leopoldo chegaram também à ilha e o noivado foi celebrado. O romance que Augusto devia já estava pronto e chamava-se “A moreninha”.
Autor do livro: José de Alencar
Logo no coração de Leopoldo e de Horácio nasceu o amor. Mas era diferente no coração de cada um. O primeiro se encantou com a alma da moça que viu de relance, na verdade desconhecia sua imagem, porém a amava. Já o segundo, um conhecedor de cada item que compõe as mulheres, se encantou pelo pé desconhecido que calçava aquela botina tamanho 29, e já o considerava o maior dos mimos.
Assim, os dois se lançaram em busca da amada e da dona dos lindos pés. Leopoldo acabou revendo-a no teatro, onde a sua amada alma assumiu forma física. Depois a viu na rua, como que fugindo de seu olhar, com pressa ela subiu em seu tílburi e assim Leopoldo teve um vislumbre dos pés de sua amada. Eram deformes e horrorosos. Isso provocou um desencanto imediato. Na sapataria confirmou sua suspeita, pois lá viu as fôrmas que serviam de molde ao sapateiro, tendo a certeza da deformidade que sua amada levava consigo.
Horácio também estava em busca da dona da botina. Assim como Leopoldo, ele viu Amélia e Laura no teatro, sendo que a segunda fugia de seu olhar. A primeira ele encontrou algumas vezes na rua e admirou seu gracioso andar e depois vendo o rastro que ela deixava ao lado do das amigas na areia do passeio público, teve a convicção de que era Amélia a dona dos pés que calçavam a botina. Sendo assim, em pouco ele deu início a seu convívio com a família.
Amélia freqüentava a casa de D. Clementina, onde dançar era a grande diversão e os parceiros eram poucos, formando pares facilmente. Foi em uma dessas reuniões que ela conheceu Leopoldo, que a observava sem parar. Pela insistência dos olhares acabaram dançando e ali, com eloqüência, ele falou, de certa forma subliminar, que a amava e que conseguia até mesmo amar as suas deformidades.
Horácio freqüentava a casa de Amélia e ali sempre buscava ver o pé dela, mas a menina o escondia com todo o empenho. E assim, em seu máximo desejo de ter pra si o pé que calçava aquela botina, pediu-a em casamento. Amélia tomou como resolução um sim, mas esperou por 15 dias para dizer isto a Horácio para não aumentar-lhe a vaidade. Durante esta quinzena, Horácio, que nunca pensaria em uma resposta negativa, não apareceu na casa.
Nesse tempo houve um baile, Leopoldo já sabia do casamento de Amélia e carregava em seus olhos a tristeza. Foi neste evento que ele e Horacio se encontraram, oportunidade esta que permitiu que um contasse ao outro sua história de amor, sem revelar o nome de suas amadas. Mas Leopoldo não demorou muito a descobrir. Quando os recém-amigos voltaram ao salão, Horácio percebeu uma mudança no humor de sua noiva e a intimidade que ela mostrou ao pedir que ele chamasse seu pai, fez Leopoldo entender quem era a amada de Horácio, e assim, rir-se por seu engano.
Na noite seguinte, Horácio foi à casa de Amélia, que bordava pantufas. A seu noivo ela afirmou que se tratava de um presente a uma amiga, o que justificava o “L” que bordava. Em seguida, distraída com a atividade, descuidou-se da barra do vestido, o que permitiu que Horácio finalmente visse seus pés. Depois de um breve silêncio, ambos se afastaram e ele foi embora mas, depois de se encontrar na rua com o futuro sogro, voltou à casa.
Ali, em nova conversa com Amélia, implicou, propositalmente, com o fato de ela ir às reuniões na casa de D. Celestina, o que justificaria o rompimento do noivado. Ela afirmou que iria lá na noite seguinte e ele contra-argumentou que se ela fosse, ele não voltava mais. Estavam rompidos no dia seguinte.
Na casa de D. Celestina Amélia e Leopoldo se encontraram e ela lhe contou que tinha ouvido a história dele e de Horácio no jardim, naquela noite, e ali também correspondeu ao amor de Leopoldo, sentimento que sempre tivera, mas só agora o entendera.
A esse tempo Horácio foi atrás de Laura, afinal as pantufas que Amélia bordava com a letra “L” para uma amiga só poderiam ser para ela. Foi assim que logo em seguida ele se declarou a ela ajoelhando-se a seus pés e indo beijá-los. Bastou isso para que um fugisse do outro: não era Laura a dona dos lindos pés.
Horácio em seguida acreditou que Amélia devia ser a dona do lindo pé, afinal ele só vira um dos seus pés. O outro poderia ser o mimo que ele sonhava e, se fosse esse o caso, ele não se importaria em reconquistá-la e casar-se com ela. Em uma ocasião, Horácio encontrou-a no centro e quando Amélia percebeu que ele encarava seus pés ela ergueu o vestido mostrando ter lindos pés, os tão sonhados por seu ex-noivo.
Acontece que Laura tinha pés grandes que sempre foram escondidos das pessoas e Amélia sempre teve pés pequenos, mas ambas tinham vergonha dos seus pés. Um dia Amélia quis compará-los, o que envergonhou muito a Laura e dali em diante ela quis se redimir com a prima e amiga. Ela encontrou um sapateiro que fazia sapatos como os comprados na Europa. Ele criou para Laura pares de sapatos que escondiam sua deformidade e assim elas sempre iam juntas à Rua da Quitanda e o criado ia buscar os sapatos que eram pagos na hora por ele, pois assim ninguém saberia quem era a dona do molde deforme que dava origem aos sapatos. E a deformidade que Leopoldo tinha visto na verdade foi apenas um engano da luz.
Horácio nessa noite foi até a casa de Amélia a fim de reconquistá-la. Chegando lá encontrou poucas luzes ligadas e subiu em uma árvore para ver o que se passava. Para seu desgosto lá dentro havia um padre, Amélia e Leopoldo ajoelhados, os pais dela, e dois amigos que certamente seriam as testemunhas. Da árvore e pela janela ele viu o casamento dos dois e depois, antes que as janelas se fechassem, ele viu Amélia entregando aquelas pantufas bordadas com um “L”, que agora sabia se referir a Leopoldo, e pedindo que ele lhe calçasse os lindos e mimosos pés.
A Horácio só restou voltar para casa, onde leu a fábula do leão amoroso que foi pisado pela pata da Gazela.
Autor do livro: José de Alencar
Jorge era um moço jovem e rico que após a morte de seu pai teve a fortuna controlada pelo fiel amigo do falecido, Sr. Almeida. Assim que completou dezoito anos pôde ele controlar toda a sua herança, mas seduzido pela vida na corte, desperdiçou muito do seu dinheiro com mulheres, jogos e etc.
Nessas circunstâncias conheceu Carolina, uma moça que vivia apenas com sua mãe, D. Maria, de uma simples família e ali Jorge conheceu sua redenção. O romance que iniciou com a menina o tirou e salvou por completo das loucuras da vida que vivia.
Em cerca de dois meses o casamento foi marcado, e assim na véspera do grande dia o Sr. Almeida esteve com Jorge. Fazia muito gosto do casamento, mas o que trazia ali era para deixar o rapaz a par de que toda sua riqueza havia se dissipado e que hoje o que restava era a miséria e as dívidas que sujavam o nome do seu falecido pai.
Tais novidades deixaram Jorge perplexo e assim ele passou a noite em claro, não pela ansiedade do casamento como ocorrera com Carolina, mas sim pela preocupação de que não poderia abandonar sua jovem noiva e deixá-la falada por um casamento cancelado nem podia casar-se e condená-la à miséria em que ele se encontrava agora.
Finalmente chegou o momento do casamento. Casaram-se, Carolina com extrema alegria e Jorge com a palidez da preocupação. Após o casamento enquanto estavam ali os poucos e íntimos convidados, Jorge afirmou ao Sr. Almeida que tinha a solução.
Carolina esperava por ele no quarto perfeitamente preparado para receber para sempre o casal. Mas Jorge, ainda preocupado, criava coragem de entrar no quarto. Por fim o fez, falou à esposa que seria necessário que ela o perdoasse e ela, firme no amor que tinham um pelo outro, de tudo o perdoou. Jorge então lhe deu um copo com licor e brindaram. Em seguida ela adormeceu e ele saiu pela janela.
Tinha colocado um pouco de ópio na bebida da esposa e assim caminhou para à praia sozinho. Mas a verdade era que um vulto o seguia. O lugar para qual Jorge se adiantava era marcado por inúmeros suicídios, iam ali muitos para encerrarem sua vida. E naquela noite não foi diferente. Sim, Jorge fora até lá para cometer o suicídio, mas um homem acabara de concretizá-lo. O homem que acabara de suicidar-se atirara contra a própria face, tornando-se irreconhecível. Por alguns instantes Jorge tomou coragem para fazer o mesmo e quando estava pronto para acabar com sua vida foi interrompido pelo Sr. Almeida que o seguira.
Ele, ao ouvir do jovem que tinha descoberto uma solução, deduzira que tentaria se matar e assim certificou-se de passar a noite vigiando-o para impedir-lhe de qualquer atitude errada.
Sabiamente ele apresentou uma solução a Jorge. Que ele colocasse naquele cadáver um bilhete de despedida se passando por ele e que assumisse dali para frente uma nova identidade e assim lutasse para limpar o nome do pai e posteriormente renascesse como Jorge e assim com a honra livre.
Jorge aceitou o conselho. Atirou para que o corpo fosse descoberto – já que o finado usara de uma espécie de silenciador – e com a ajuda de Sr. Almeida arrumou um novo documento e embarcou para os EUA, onde adquiriu parte do dinheiro que lhe era necessário. Depois voltou ao Brasil, onde terminou de quitar parte das dívidas, as quais o Sr. Almeida havia se tornado credor.
Durante tudo isso passaram-se cinco anos, nos quais Carolina se prendeu em um luto e na lembrança do marido sem se permitir novos amores. Era conhecida como a viuvinha, e era uma das mais belas damas da sociedade.
Assim nesse último ano ela adquirira um admirador secreto que toda noite lhe deixava uma carta com uma rosa na janela. Desse modo a viuvinha se perdia no novo sentimento que nascia por esse vulto que toda a noite lhe deixava uma carta e também na lembrança de Jorge.
Durantes estas noites eles viram muitas vezes a sombra um do outro. Ela que esperava na janela e ele que se aproximava. Algumas vezes ele lhe dera um beijo na mão e finalmente marcaram um encontro à meia-noite no jardim. Carolina foi vestida de branco, mas seus acessórios eram pretos e assim esperou pelo o admirador crendo que daria fim àquela situação naquela noite, voltando a cultivar apenas o amor à memória de Jorge.
Ele chegou e conversaram, perguntou se ela o amava. Porém Carolina se dividia na lembrança de Jorge. A resposta do cavalheiro foi beijá-la. E assim os dois se direcionaram ao quarto dela. Na manhã seguinte, D. Maria gritou para que a filha viesse tomar o café. E então finalmente ela e Jorge se sentaram à mesa como marido e mulher.
Autor do livro: Camilo Castelo Branco
Simão era um jovem que envergonhava a família. Suas amizades eram apenas com aqueles que pertenciam às classes mais pobres e vivia como um desordeiro, batendo e atirando pelos locais que passava. E por tais atitudes desgostava muito a seus pais, eles na verdade nem sentiam pelo filho amor. Porém, passado um tempo Simão mudou totalmente. Não saia mais de casa, suas más amizades se findaram, suas desordens também e passava seus dias em casa junto com Rita, sua irmã. A mudança no comportamento dele tratava-se de um romance. Ele e Teresa Albuquerque, filha de Tadeu Albuquerque, haviam se apaixonado. Porém, as famílias eram inimigas, sendo assim, o romance era proibido, mas o relacionamento dos dois era conhecido apenas por eles.
Simão retornou a Coimbra onde tinha iniciado seus estudos e lá se esforçava ao máximo, pois era no estudo que depositava o seu futuro junto ao de Teresa. Eles mantinham o romance por cartas.
Nessa condição Teresa e Ritinha se tornaram amigas e o amor dos dois foi confidenciado à menina. Porém, na vez em que Domingos pegou Ritinha conversando com Teresa a obrigou a contar suas conversas e assim o romance dos dois foi revelado e instantaneamente repudiado.
Deu-se início à tragédia futura. Tadeu ofereceu a mão da filha em casamento ao primo Baltasar Coutinho. A menina o negou e foi então que começaram as ameaças à Teresa. Casava-se ou não seria mais considerada filha, seria mandada para o convento. A menina se mantinha fiel a Simão. Ele como resposta e enfurecido com as tentativas de Baltasar, voltou a Viseu. Porém, não para a casa de seus pais, instalou-se na casa de um ferrador, João da Cruz.
O homem o hospedou e declarou-se um servo fiel, pois anos antes o pai de Simão o livrara da morte na forca. João da Cruz tinha uma filha, Mariana, essa se empenhou no zelo do hóspede e sentia por ele um amor que jamais seria correspondido, mas ao qual ela era fiel e servil.
Teresa avisada da presença de Simão escreveu a ele para que naquela noite durante o baile de seu aniversário fosse até as portas do quintal para se encontrarem. Foi o que ele fez. Entretanto, o encontro foi impossível, visto que Baltasar presente na festa notou algo diferente e seguiu a menina, o que impediu o encontro. Ele também a ouviu marcar para noite seguinte o reencontro.
Simão voltara na noite seguinte, porém, Baltasar tinha lhe preparado uma armadilha. Mas como João da Cruz já esperava desse artifício foi junto com seu ajudante antes para auxiliar o rapaz. Aconteceu que o encontro se fez, porém na volta João e seu ajudante enfrentaram os empregados de Baltasar e mataram um deles. A esse ponto o outro fugira e Simão tinha um ferimento no ombro e quando o empregado foi encontrado, por piedade de Simão, João o deixara vivo.
Na casa do ferrador o rapaz foi tratado do ferimento sobre o qual ele levemente narrara a Teresa. João e Mariana se dedicavam grandiosamente a satisfazer as necessidades de Simão, e até mesmo do seu dinheiro deram a ele, fingido tal ter sido enviado pela mãe dele.
Com a insistência de Teresa em se negar ao casamento e a obedecer às ordens de seu pai, ela foi levada a um convento. Secretamente consigo levara tinteiro e papel. No entanto, nesse convento onde acreditou que teria uma vida em maior paz encontrou freiras fofoqueiras e maldosas. Nesse tempo, ela e Simão lutavam mais ainda pra manter sua proibida correspondência. Mais tarde Tadeu quis levar a filha a outro convento onde a tia dela era freira. Simão recebeu a carta com a notícia que também afirmava que junto a ela estariam indo suas irmãs, seu pai, Baltasar e as irmãs dele. Essa notícia o enfureceu e escondido de João e Mariana ele foi ao convento de sua amada. E quando Baltasar apareceu, junto a todos os outros, Simão o matou.
Simão, por ser filho do desembargador, facilmente teria escapado da prisão, mas não quis, garantiu-se de ir preso. Sua família mudou-se para Vila Real e ele rejeitou a ajuda que sua mãe lhe ofereceu. Declarou-se sem família. Vivia do socorro de João da Cruz e sua filha. Mariana, que se tornara extremamente submissa a Simão, se dedicava a ele a tal ponto que chegou a entrar em estado de demência. Por esse tempo João prestou ajuda a Simão.
Teresa no novo convento encontrou freiras mais bondosas e verdadeiras. Sua correspondência com Simão ainda era difícil, mas mesmo assim eles a mantinham. Foi então que a condenação à forca foi declarada a ele, por tal notícia Teresa se entregou a morte e viveu como uma moribunda.
No entanto, o pai, Domingos, afirmando que até agora tivera uma vida com honra, não morreria vendo na família uma morte na forca, matava-se. Nessas circunstâncias Domingos agiu e impediu a morte do filho.
Simão foi transferido de prisão, foi levado a uma próxima ao porto e nas suas proximidades estava o convento de Teresa. Tadeu tentou tirá-la de lá, mas a menina não abandonaria o convento e tinha ao seu lado as freiras que não permitiam que ninguém fosse obrigado a sair do convento.
Nesse tempo Mariana voltara à sua sanidade e logo à sua dedicação a Simão. Ele viveu por dois anos e nove meses na prisão. E nesse período João já vivia insatisfeito com a “perda” da filha e antes de qualquer coisa foi assassinado pelo filho do homem que matara. Sendo assim, Mariana vendeu todas as terras que a ela pertencia e viveu a se dedicar a Simão.
A Simão foram oferecidas duas penas, ficar dez anos preso ou viver dez anos no exílio na Índia. A vontade de Teresa era que ele ficasse na cadeia, mas a mocidade e o desejo pelo sol o fizeram optar pelo exílio. E assim fez. Mariana foi com ele. Pelo pai que tinha Simão entrou como homem livre no navio e o capitão o fazia comer com ele, também lhe oferecera ajuda para que na Índia ele desse início a uma vida nova e prometeu socorrer Mariana em tudo que fosse preciso. Porém, do porto Simão assistiu a morte de Teresa e lá recebeu as cartas que ele tinha escrito a ela e uma carta final dela.
Simão adoeceu, tinha febres e delírios, Mariana ficou incumbida de lançar no mar os papéis e as cartas que ele e Teresa havia trocado. Por fim, Simão morreu e Mariana deu nele o primeiro beijo.
Enterravam-se homens no mar, lançando-os no oceano com uma pedra presa aos pés. Não foi diferente que fizeram, e quando Simão foi jogado no mar, Mariana também pulou entregando-se à morte e deixando as cartas dos dois amantes.
Autor do livro: Lygia Fagundes Telles
Verde lagarto amarelo fala sobre dois irmãos, o mais velho, Rodolfo, e o caçula, Eduardo. O mais novo sempre foi o preferido da mãe, e o mais velho vivia a serviço do querer dele por intervenção da mãe. O mais velho sempre mais calado e quieto cresceu e vivia sozinho; a única coisa que sentia ter como sua era a escrita, ele era escritor. Já o mais novo era casado, animado. Foi numa visita que fez ao irmão que lhe declarou também ter escrito um romance, roubando assim a única coisa pertencente ao irmão mais velho.
Apenas um saxofone é a história de uma mulher velha e rica. Tinha um homem rico que a sustentava, um jovem que lhe satisfazia e um professor espiritual com quem dormia. Possuía jóias, tapetes e uma mansão, no entanto vivia infeliz. Vivia na saudade do seu grande amor, um saxofonista que se dedicara a ela completamente, ela era a música dele. Ele tocava com paixão o saxofone e assim mantinha a mulher. Mas a relação se desgastou a ponto dele ir embora enojado. E assim ela vivia só com a lembrança.
Helga fala de um jovem do sul do Brasil que vivia em férias na Alemanha, logo assumindo uma vida alemã. Em uma das férias passou pela guerra, não seria mais aceito no Brasil. Vivia ali de uma espécie de tráfico de alimentos. Foi lá que conheceu Helga, uma alemã por quem se apaixonou, ela tinha uma cara perna ortopédica. Chegou a noivar, o pai dela propôs que iniciassem o tráfico de penicilina, mas faltava o investimento inicial. Foi assim que ele casado com Helga roubou-lhe a perna ortopédica e desapareceu voltando, tempos depois, rico para o Brasil.
O moço do saxofone narra a história de um chofer de caminhão que se instalou em uma pensão. Nela viviam inúmeros anões e uma mulher com seu marido que era saxofonista, um homem traído e conformado. Na pensão havia quartos separados, quando a esposa estava com outro homem o marido tocava o saxofone de uma forma deprimente, isso incomodava de mais o chofer. Quando ele se encontrou com a mulher do saxofonista marcaram um encontro. Ela explicou qual era a porta, no entanto quando ele chegou teve com o saxofonista, conformado como era indicou a direção e ao ser questionado do por que não fazia nada afirmou que tocava o saxofone. Com isso o chofer partiu da pensão.
Antes do baile verde narra a preparação da jovem Tatisa para o carnaval. Com ajuda da sua empregada pregavam, nos últimos minutos, as lantejoulas na saia da moça, nesse momento a empregada se inquietava, pois iria se atrasar para o encontro com seu homem e também discutiam o fato de que o pai de Tatisa vivia seus últimos minutos. Ainda antes de sair, a menina duvidosa da proximidade da morte do pai, desejava ir ao baile. Assim, as duas saíram à porta deixando o pai de Tatisa desfalecendo.
A caçada fala de um homem que visitando uma loja de antigüidades encontra uma tapeçaria velha onde encontra alguma lembrança que não reconhece. Torna-se preso à imagem e se sente como personagem da caçada que ela ilustrava. Passou a ir à loja com freqüência para observar a peça e foi na frente dela que teve um ataque cardíaco.
A chave fala de um casamento saturado, onde Tom e sua mulher se arrumam para um jantar, enquanto ele insatisfeito reclama e pensa na inutilidade desses jantares e no quanto gostaria de ficar ali dormindo.
Meia noite em ponto em Xangai narra a noite de uma cantora que alcança o momento de brilho de sua carreira em um concerto na China. Recebe em casa, depois do show, seu empresário e conversam sobre a carreira dela e sobre a desumanidade dos empregados dali. Porém, depois que o empresário se vai a cantora junta a seu cachorrinho e se aterrorizam com a escuridão e com a suposta presença do empregado no aposento.
A janela narra a conversa entre um homem e uma mulher. O homem chega ao quarto da mulher, se aproxima da janela dizendo que seu filho morrera ali e que na janela havia uma roseira que seu filho amava. A mulher o questiona, mas ele pouco responde, preso à lembrança do filho. A mulher então lhe oferece um refresco ao que ele aceita, mas quando ela retorna ao quarto vem acompanhada de médicos, ele lhe pergunta o motivo e sem necessidade da camisa de força os médicos o levam embora.
Um chá bem forte e três xícaras fala da espera de uma mulher, enquanto observa uma nova borboleta em uma rosa, por sua convidada ao chá, uma jovem de 18 anos que trabalha com seu marido. A empregada que está com ela pergunta se tal moça é a que liga atrás do patrão e ela afirma que sim. Depois, limpando as lágrimas, a mulher caminha até o portão para receber a jovem que vem chegando, enquanto a empregada vai buscar o chá e três xícaras, caso o patrão venha também.
O jardim selvagem fala sobre o chamado Tio Ed casado com Daniela, um jardim selvagem. A princípio, em confidência com a sobrinha, a Tia Pombinha, irmã de Ed, desaprova o casamento, dizendo que Daniela vive constantemente com uma luva em uma das mãos a qual ninguém vê. No entanto, depois de conhecê-la a acha um amor. Depois de um tempo a empregada da casa conta à sobrinha de Ed que viu Daniela matar o cachorro da casa com um tiro na cabeça, essa afirmava que só lhe poupou da dor que a doença lhe causava. Por isso, a empregada havia pedido até demissão. Dias depois chegou a notícia que Ed estava doente e, mais tarde, que ele se matara com um tiro na cabeça.
Natal na barca narra o diálogo de uma senhora com uma mulher em uma barca que cruza o rio no dia de natal. A mulher trás no colo o filho doente a quem está levando ao médico, durante a viagem ela conta a senhora de como perdeu o filho mais novo quando ele pulou do muro intencionando voar e como o marido a abandonou mandando uma carta depois. A senhora, sem saber o que dizer, arruma a manta do bebê e percebe que ele estava morto, nesse ponto a embarcação chega e ela se precipita pra descer não querendo ver a dor da mulher. Porém, assim que descem o bebê acorda e a senhora vê a mãe e a criança partirem.
A ceia trata da despedida de dois amantes em um restaurante. A mulher desesperada e apaixonada tristemente suplica para que o homem a visite, mas ele afirma que acabou. No entanto, diz que foi bom durante todo o tempo e não quer romper como inimigos. Ela assume um ar sarcástico e o questiona sobre a noiva, depois lhe pede que vá embora, partindo sozinha.
Venha ver o pôr-do-sol fala da história de um casal que depois de um tempo que já haviam rompido o relacionamento, devido às súplicas do homem se reencontram. Ricardo marca um encontro no cemitério, Raquel vai relutante e assim conversando ele a conduz até o jazigo que dizia ser de sua família. Ele a leva até lá a fim de mostrar, no túmulo, a fotografia da sua prima que tinha olhos parecidíssimos com os de Raquel. Quando entra no jazigo Raquel vê que a data da morte da moça era muito antiga para ter sido prima de Ricardo, mas a esse ponto ele já havia fechado o jazigo, trancou até a fechadura e depois foi embora, enquanto crianças brincavam na rua.
Eu era mudo e só fala sobre um homem oprimido pelo casamento que o afastou dos amigos. A mulher, criada na perfeita educação das aparências, também passa isso para a filha Gisela. Ele abandonara o jornalismo e se tornara sócio do sogro no ramo de máquinas agrícolas apenas para manter o padrão que Fernanda exigia.
Pérolas fala sobre Tomás e Lavínia, que são casados. Ela se prepara para uma reunião e ele sentado observando-a se arrumar já imagina o que acontecerá na reunião, vê a mulher com Roberto na sacada, próximos, sem palavras, mas sabendo que se amam. Ele fica incentivando-a a ir. Quando ela procura o colar de pérolas, para finalmente ir para a reunião, não o encontra. Ele o escondera para diminuir a realidade do que aconteceria na sacada, mas quando ela estava na calçada ele diz achar o colar e o entrega a Lavínia.
Menino narra a ida do menino e sua mãe ao cinema. Enquanto caminham ele vai orgulhoso por causa beleza da mãe. Quando chegam ao cinema, ela, que caminhara apressada na rua, se demora na porta do cinema e manda o menino comprar doces. Finalmente entram na sala e passam por muitos acentos com vaga para duas pessoas até que chegam a um com lugar para três. O filme começa e o menino reclama da enorme cabeça na sua frente, ele tenta mudar de lugar, mas a mãe não deixa, até que se senta na cadeira vaga um homem. Depois de alguns momentos a cabeça que o atrapalhava sai do acento e nessa hora ele vê a mãe de mãos dadas ao estranho do lado. Daí para frente a imagem da mão branca da mãe e da mão morena do homem o perturba. Pouco antes do fim do filme o homem parte. Ele e a mãe vão embora, ela alegremente. Chegando a casa encontram o pai e o menino então chora.
Autor do livro: Martins Pena
Sendo dia de festa no Rio de Janeiro, havia mágicos e queima de fogos. Assim, em meio às comemorações na cidade, Clarisse e Virgínia escaparam do pai para se encontrarem com John e Bolingbrok. Ali também estava Jeremias, amigo de John. Ele fugia de sua mulher, afirmando que a tal era pior que o diabo. E assim, enquanto as meninas falavam com os ingleses, Jeremias vigiava, para o caso de Narciso aparecer.
Entretanto, Jeremias acreditou ter visto sua esposa, Henriqueta, e se descuidou de sua vigilância. Assim, o pai das meninas as encontrou e as levou embora. Jeremias em seguida se explicou e pediu desculpas por seu descuido e falou a John um modo de ele ir ter novamente com sua amada. Sugeriu que ele se disfarçasse de mágico e combinasse com as irmãs um novo encontro.
Assim John fez e marcou com Virgínia novo encontro. E ainda deu a Henriqueta a indicação de que Jeremias estaria ali em pouco tempo.
Sendo assim, Virgínia e John, Clarisse e Bolingbrok estavam casados e vivendo na Bahia. Junto deles também estava Jeremias que havia escapado de sua mulher depois do encontro que teve com ela graças às falas de John. Mas nem tudo corria bem como era de se esperar. Os ingleses tratavam suas mulheres como suas escravas e ainda bebiam muito. Elas estavam completamente infelizes.
Nessas circunstâncias Henriqueta chegou à casa delas. Vinha em busca de Jeremias, e vendo a infelicidade das amigas contou a elas o que ocorria no Rio de Janeiro. Por lá as pessoas falavam que o casamento delas não era legítimo pois, sendo católicas, o casamento protestante realizado porque os ingleses assim o eram, não as tornava casadas, mas apenas a John e Bolingbrok. Então Henriqueta combinou com elas uma fuga para o Rio no barco que partia pela madrugada, mas elas deveriam ajudá-la a convencer Jeremias de ir com as irmãs para o caso de ela não conseguir fazer isso sozinha.
Virgínia e Clarisse saíram para arrumar suas malas, aproveitando que seus maridos não estavam em casa.
Henriqueta, que esperava lá embaixo, ao ouvir Jeremias vindo apagou as velas e o esperou no escuro. Jeremias entrou pedindo luz ao criado e quando encontrou Henriqueta, começaram uma discussão. Mas logo em seguida chegou uma carta para Jeremias dizendo que seu negócio havia falido. Assim, restou a ele apenas a mulher, e então se reconciliaram. Decidiram, então, seguir para o Rio junto a Clarisse e Virgínia.
Lá as meninas foram recebidas pelo pai, que logo se adiantou para concretizar a anulação do casamento das filhas. E ainda fez um único pedido, já que as recebera depois te terem desobedecido e fugido: ele pedia que se casassem com Serapião e Pateleão, ao que não deram resposta. A verdade é que os ingleses voltaram ao Rio para cortejá-las novamente e elas nutriam esperança de que pudessem ser felizes com eles.
E assim tendo Narciso saído e ido jantar fora, elas convidaram os ingleses para um jantar em sua casa, mas na verdade pretendiam vingar-se deles, além do pouco caso que faziam deles nos bailes. Tiveram a ajuda de Henriqueta.
Os rapazes chegaram e elas usando da chantagem: “mas não nos amam?” fizeram com que eles fossem comprar verduras, empada e pão-de-ló para o jantar. O que não condizia com o orgulho inglês. E assim enquanto eles estavam fora, Jeremias chegou, ele tratava agora dos negócios dos outros e por acaso ficaram com a anulação do casamento de Clarisse e Virgínia e tendo o papel em mão foi ter com elas para saber se de fato queriam que ele levasse o processo adiante. Mas nenhuma das duas respondia, então Henriqueta que via a esperança que elas tinham para com os ingleses, falou que o marido deixasse de lado aquela história e as meninas aceitaram, obviamente.
Nesse tempo John e Bolingbrok chegaram e desta vez as meninas o fizeram tirar a casaca e colocar a mesa. Enquanto eles faziam isso, elas iam olhar o jantar, mas em pouco tempo voltaram correndo dizendo que Narciso estava em casa e que eles deveriam se esconder. Propositadamente os fizeram entrar em pipas cheias de tinta.
Elas não esperavam, mas de fato Narciso tinha voltado para casa e junto com ele estavam Serapião e Pateleão. Como estes se interessavam pelas meninas, John e Bolingbrok saíram das pipas com as roupas tingidas, um de vermelho e outro de azul, e começaram a lutar com os amigos de Narciso. Este corria, tentando fugir, achando que os genros eram o demônio.
Ao fim, John e Bolingbrok confessaram amar Clarisse e Virgínia, que disseram o mesmo. Os ingleses, satisfeitos com Jeremias por ter rasgado a anulação do casamento, provando a Narciso que as meninas ainda eram casadas, o declararam seu novo sócio nos negócios. E assim John e Virgínia, Bolingbrok e Clarisse, Jeremias e Henriqueta gritaram que felizes seriam, já Narciso, Serapião e Pateleão logrados se afirmavam.
Autor do livro: Ítalo Calvino
Lugares como a cidade de Isidora onde as escadas do palácio são de caracóis marinhos, onde há fabricação perfeita de binóculos e violinos e onde o viajante na dúvida entre duas mulheres sempre conhece uma terceira e onde as brigas de galo acabam em sanguinárias brigas entre os apostadores.
Em meio há muitas narrações Klubai questiona Marco acerca de suas viagens, diz que nada lhe proporcianam além de narrações sonhadas enquanto os outros viajantes sempre lhe retornam com boas informações, como por exemplo, onde encontrar os preços mais baixos de pele. Marco lhe responde que as suas viagens são visões dos outros rumos que a vida poderia ter seguido caso outros caminhos tivessem sido seguidos.
E assim inicia nova narração como a da cidade Maurília em que o visitante enquanto a percorre é convidado a ver cartões-postais de como a cidade havia sido (na praça em vez de uma galinha, uma estação de ônibus), concluindo que a Marília dos cartões-postais não é o passado da atual cidade e sim uma cidade que teve o mesmo nome.
Marco falava de cada cidade sem uso de palavras, apenas com gestos e objetos, mas com o tempo esses foram substituídos por palavras que logo foram abandonadas voltando ao modo primário. Em certo ponto Klubai viu semelhança entre as cidades narradas e prôpos que ele falasse a Marco sobre as cidades e que ele confirmassem a existência delas ou não, já na primeira tentativa a cidade narrada era a que Marco acabara de descrever.
Vieram então mais cidades. Armil, por exemplo, composta apenas de encanamentos, da qual não se pode falar que foi abandonada antes mesmo de ser habitada por que não raramente é possível ver jovens, esbeltas mulheres dentro de banheiras, debaixo de chuveiros suspensos no nada ou se enxugando, se perfumando ou se penteando.
Klubai após sonhar com uma cidade ordena que Marco viaje e veja se ela realmente existe, no entanto nem foi necessário, pois ela não só existia como já era conhecida por ele. Em certo momento Klubai questionou a existência das cidades narradas ao que Marco respondeu que suas cidades narradas eram cidades possíveis. Conta sobre Sofrônia que é composta de duas meias cidades uma com roda-gigante, montanha-russa, carrocel e globo da morte e a outra construída com mármore, cimento e pedra, composta por escola, banco, fábricas, que ao fim da temporada se desmancha e vai embora ficando apenas a metade com montanha-russa, carrocel e etc.
Klubai decidiu que falaria sobre as cidades e Marco diria se elas existiram ou não, mas isso nunca acontecia. Mas uma vez Klubai sonhou com uma cidade que existia e assim novas narrações surgiram, como a de Bauci que quando se chega nem sabe-se que chegou, pois a cidade se sustenta acima das nuvens e os habitantes raramente são vistos em terra por terem tudo que precisam por lá. Há três hipóteses acerca dos habitantes dessa cidade; que odeiam a terra, que a respeitam evitando contato ou que a amam e ficam de lá a observando com binóculos e telescópios.
Viajando juntos a Quinsai perguntou a Marco se já vira cidade como aquela, ele respondeu que não. Klubai disse-lhe ao anoitecer que ele nunca lhe falara de Veneza, mas Marco disse que em todas as cidades narradas havia parte de Veneza ao que foi censurado. Klubai queria narração de outras cidades, se fosse lhe falar de Veneza que lhe falasse por completo, Marco justificou-se dizendo que talvez não falava completamnete por temer perdê-la.
Assim surgiram novas narrações, de cidades como Esmeraldina, Fílide, Pirra, Adelma e etc. Klubai então lhe questionou sobre o tempo dessas viagens e como parecia-lhe mais narrações sobre o passado.Veio então Moriana, Clarisse, Eusápia, Bersabéia… As narrações iniciaram através do xadrez, Klubai conhecia as cidades que Marco narrava enquanto jogavam.
Contou sobre Argia que em vez de ar tinha terra. Entre o chão e o teto tudo era cheio de terra, entre o telhado e o céu também tudo era terra. Falou sobre Turde que nada diferenciava da cidade que ele acabrara de sair, as mesmas casas com as mesmas cores e faixadas, as mesmas embalagens e os mesmos ditos.
Passaram então a observar o atlas que Klubai possuía, nele havia todas as cidades que existiram, as que existiam e as que ainda viriam a existir. Possuia cidades de todas as formas e tamanhos. E também as cidades originadas de sonhos, e ainda as cidades originadas de pesadelos e maldições.
Autor do livro: Raul Pompéia
Foi o sogro que combinou a venda de Conceição, a menina vivia sobre a mentira de que era uma agregada da casa, ninguém sabia da sua origem. Vendeu-a ao Paiva. O negocio era esse: a menina ia passar uma temporada na casa do Paiva, ele era um íntimo do duque o qual iria à noite para casa de seu empregado para estar com a menina. Em troca foi dado dinheiro, o velho pensou logo nas necessidades do neto e assim aceitou a venda da inocência da menina com uma preocupação mínima.
Na noite em que Paiva foi pagar o velho, Emilia escutou todo o negócio e brigou com ele em uma fúria jamais vista em mulher que vivia como uma moribunda.
Paiva, como já se pode notar, não era o melhor dos homens e, como malandro que era, planejou roubar as joias pertencentes ao duque de Bragança – seu amigo pessoal. Paiva tinha como cúmplice Inácio, um empregado do palácio do duque que tinha como responsabilidade trancar as portas. E também contava com Aleixo, dono da casa onde as joias ficariam escondidas ate a polícia se aquietar.
O plano era simples, o duque iria a um baile na casa do Marques, dormiria lá e pela manhã ia para Anatópolis com a duquesa. As joias usadas no baile seriam mandadas para o palácio onde ficariam provisoriamente guardadas em um armário antes de serem guardadas na segura burra. O particular do duque, que serviria como um empecilho, com certeza iria para casa mais cedo com intuito de ficar com a família aproveitando-se da ausência do duque. Nessa noite, Paiva e Inácio iriam entrar na sala onde o armário ficava e levariam as joias para a casa de Aleixo.
Foi assim que atuaram na noite, Inácio deixou a porta aberta e ele e Paiva se encontraram na madrugada, invadiram a sala, arrombaram o armário e tiraram as joias. Para criar evidências abriram três janelas e lançaram uma corda por uma delas.
Na manhã seguinte, no palácio houve a maior zorra, com todos querendo saber o que aconteceu e o marques d’ Etu, filho do duque – porém os dois estavam brigados devido a avareza e ambição do marques – gritando pelo anel de diamantes dele que fora roubado.
A polícia foi chamada, o particular e também o duque que ainda não tinha partido para Anatópolis. O delegado depois de interrogar os funcionários da casa acabou levando preso Inácio e o particular.
No gabinete do duque, cômodo onde poucos entravam, ele conversava com Paiva. A conversa, no entanto, não resultou bem. O duque afirmou que sabia que era Paiva o responsável pelo roubo, acreditando não ser hora nenhuma vítima de suspeita por ser tão próximo ao duque, porém o duque não tinha intenções de prender Paiva, só queria provar que ele sabia da verdade e que o empregado não era tão esperto assim, pelo contrário. Mas Paiva preferiu encenar e assim questionou sua própria honra e depois ameaçou o duque falando que se preso contaria todas as transgressões do mesmo. A resposta dele foi só afirmar que ninguém passa por cima dele e assim Paiva foi levado preso, porém não em um carro de polícia e tudo mais, sua prisão foi muito discreta como se o duque temesse seus segredos revelados ou pretendesse uma negociação.
Há esse tempo a notícia do roubo já chegara à casa de Emilia, mas lá o fato passou sem grandes reboliços. Acontecia que Emília estava doente, amanhecera assim. Na casa, o sogro e a sogra só se preocupavam com ela porque era como uma empregada. Apenas Conceição se preocupava de verdade e foi assim que foi ter com a mulher, via que ela era a única que de fato a amava naquela casa e assim, estando com a doente, a reanimou com seu afeto. Porém, à noite, quando a menina foi para casa de Paiva ter com sua amiga, Claudinha, ela caiu na cama novamente.
A ida da menina para casa de Paiva significava que o negócio ainda estava arranjado e a menina perderia sua inocência dos poucos 14 anos para o próprio pai. Na cama foi que a duquesa encontrou Emília. Esta era uma mulher muito boa e se ocupava em visitas, até mesmo em casas tão pobres como aquela. A verdade era que tinha uma grande curiosidade e compaixão por Emília que carregava na face e no corpo um fardo, que era o segredo quanto à origem de Conceição.
E foi ali em seu leito de morte que Emilia revelou toda sua história e de sua filha à duquesa. Pouco depois morreu.
Na casa de Paiva tudo ia muito bem. Como fora concedido pelo duque, Paiva pode ir lá e explicar porque ficaria fora aquela noite. Conceição chegara para a visita e tudo ia exageradamente bem. A refeição foi das melhores e um ótimo vinho foi oferecido. A menina aceitava tudo e assim nem notou como todos foram dormir cedo. Ela foi encaminhada para um quarto muito perfumado e organizado e ali dormiu usando uma linda camisola.
O duque chegou, entrando por uma porta que dava para o jardim e propositalmente foi deixada aberta pela mulher de Paiva, e encontrou a menina dormindo. Em um fervor se aproximou, mas se envergonhava pela virgindade tão pura da menina, ficou um tempo aos pés da cama a observando. Quando se levantou foi interrompido pela duquesa. Esta esteve ali todo tempo o esperando até que finalmente o interrompeu com nojo afirmando que ele era pai da menina.
Corria o boato que o duque estava doente, mas ele estava de fato só irritado com a recente descoberta e assim por intermédio do delegado ajustou a liberdade do Paiva, temia que junto à duquesa lançassem na sociedade o escândalo com Conceição. Com a mesma energia que o duque, ele ameaçou levar Paiva à pior das ruínas se não confessasse o crime e entregasse as joias. Assim, ele tendo em troca total impunidade entregou o local onde estavam as joias e foi liberto junto com Inácio e o particular.
A Paiva o cargo foi restituído, os outros dois foram demitidos. E assim a vida seguiu.
Autor do livro: Gil Vicente
Prova disso é o caso de uma alma que seguia em sua jornada da vida, de quando em quando seu anjo vinha junto dela, era uma alma limpa de coisas feias, uma alma pura. Que seguia na jornada rumo ao paraíso. Ela pedia que o anjo ficasse com ela para lhe ajudar a resistir às coisas mundanas e o anjo afirmava que estaria sempre por perto, mas era necessário que a alma vencesse as tentações.
Foi assim que estando ela em um momento sozinha encontrou-se com o diabo. Esse muito esperto deu início à sua sedução, para levar a alma junto consigo para o inferno. Perguntava aonde ela ia com tanta presa, com o que tinha que cumprir; falava que era muito cedo para seguir na vida cristã e que mais compensava esperar ser velha e cansada porque assim desfrutaria da vida aqui e o perdão não tinha idade, então quando já esgotada tivesse buscaria a salvação.
A alma até tentou negar os convites, mas o diabo não a deixava, e assim sua jornada seguia mais lenta. Com isso o anjo veio ter com ela, insistiu que ela se animasse e que não parasse agora, porque o fim daquele caminho era muito bom, era muito recompensador. Mas bastou o anjo sair para que o diabo voltasse e a seduzisse com riquezas.
Quando o anjo retornou, encontrou a alma integre às vaidades e fortuna, questionada respondeu que fazia o que via o mundo todo fazer. O anjo tentou lhe trazer de volta para a correta jornada, falando que não morresse com aquelas vontades mundanas, mas a alma afirmava que voltaria aos caminhos do anjo quando pudesse. E assim o diabo voltou a falar-lhe.
Falou que tudo tinha tempo e que agora a alma namoraria e casaria e estaria cercada de joias. E que na velhice poderia se arrepender e ir pro Céu tendo se aproveitado de sua juventude. Assim a alma se alegrava com sua formosura.
Novamente o anjo voltou e triste lamentava pela alma perdida, questionava por que Deus permitira isso. Nesse tempo a alma já estava cansada, ferida e arrependida. O anjo a encontrando lhe falou que próximo estava um local para descansar onde seria bem acolhida. O diabo ainda lhe apareceu e a lembrou das coisas que possuía tentando novamente a persuadir, mas desta vez a alma suplicou para que ele fosse embora e ela pudesse concertar o erro que com ajuda dele cometera.
Assim, a alma e o anjo chegaram à Igreja. Esta o questionou por onde andara, ao que alma respondeu que não sabia de onde vinha e pra onde iria, mas que era uma alma carregada e pecadora, mas também verdadeiramente arrependida. Assim a Igreja lhe acolheu e chamou seus auxiliares: Santo Agostinho doutor, Jerónimo, Ambrósio, São Tomás. E prepararam iguarias para alma.
Nesse tempo o diabo e mais outro falavam. O diabo que havia desencaminhado aquela alma reclama que novamente o anjo da espada havia lhe levado uma alma já quase perdida, mas diferente do outro que afirmava que mais almas viriam, esse afirmou que conseguiria levar aquela ao inferno.
Seu objetivo não foi cumprido. A alma na igreja estava arrependida e os santos lhe preparam as iguarias. Todos à mesa, Santo Agostinho pede a Maria por aquela alma e depois ele mostra para a alma a toalha que uma mulher usou para enxugar o rosto de Cristo quando este carregava a cruz e assim todos a adoraram.
Em seguida as iguarias são apresentadas: os açoutes, a coroa de espinhos, os cravos e adoram a essas iguarias. Depois disso a alma tira o vestido que usava, estando totalmente purificada. Por fim, mostraram a última iguaria, um crucifixo. A alma então depois de ver todo o sofrimento do Criador, se torna fiel novamente a ele, vendo toda a sua culpa e Ele pagando o preço. Assim todos os santos, a igreja e o anjo saem para o jardim a fim de adorar o monumento onde está sepultado o redentor.